Caros geonautas,
Do governo Lula ao Governo Dilma, dez anos se passaram, o projeto do
lulismo e o termo incorporado no discurso recente,: “Temos um
projeto político”.
Principalmente no ano de 2012, ouviu-se, nos debates e apresentações,
uma frase quase em forma de coro, de forma uníssono, entre os membros do
governo e na academia, “Temos um projeto político”, Mesmo para meus
parcos conhecimentos, ficou evidente que, era uma forma ensaiada, uma nova
forma de se comunicar, uma espécie de nova linguagem e estratégia do QG do
lulismo, nas palavras, repetidas ad eternum, “Temos um
projeto político”, foram palavras, por exemplo, de Andre Singer e Fernando
Haddad nas respectivas entrevistas para o jornalista Luis Nassif, vamos tentar
entender e desvendar essa caixa preta.
É preciso deixar claro que, a eleição do operário e metalúrgico Lula foi
uma mudança de paradigma histórica no Brasil e quiçá na história da democracia
do mundo, e também a eleição da Dilma Rousseff, mas até onde o lulismo irá só o
tempo dirá. Mas qual é a inteligentsia do lulismo, além da sabiência do Lula?
Do discurso de Lula no Congresso Nacional (
integra aqui),
destaco algumas falas, mas convido a todos a ler a integra do discurso. O carro
chefe do discurso foi o lançamento do programa “
Fome Zero” e a esperança
de forjar um pacto social:
"Mudança"; esta é a palavra chave, esta foi a grande mensagem
da sociedade brasileira nas eleições de outubro. [...] antes de qualquer outra
coisa, convocar o meu povo, justamente para um grande mutirão cívico, para um
mutirão nacional contra a fome. [...] Por isso, defini entre as prioridade de
meu governo um programa de segurança alimentar que leva o nome de "Fome
Zero". Como disse em meu primeiro pronunciamento após a eleição, se, ao
final do meu mandato, todos os brasileiros tiverem a possibilidade de tomar
café da manhã, almoçar e jantar, terei cumprido a missão da minha
vida. [...] Por tudo isso, acredito no pacto social.
É sabido que o programa “Fome zero” não vingou, foi substituído
pelo “Bolsa Família”, que não era na origem, um programa base do PT, mas aqui
entra a grande sacada, a sensibilidade e a visão política do Lula, que soube
ouvir e teve coragem de bancar o programa.
Esse é na minha modesta opinião o ponto mais importante do governo Lula,
disse em 2011 que, se o Lula, ao ser eleito presidente, ao invés de usar sua
intuição, passasse a responsabilidade para os intelectuais do PT, para os
intelectuais das universidades, ele muito provavelmente, politicamente falando,
seria hoje mais um “morto-vivo”, como FHC.
Pegando carona no artigo, “
Lula e a
falência da ‘Doutrina Garcia’”, O Globo, 31 de Jan. de 2013, embora
seja favorável a integração da América do Sul, ao contrário de Demétrio
Magnoli, mas ele relata as bravatas do assessor Luiz Dulce:
“Lula sabe mais que os “intelectuais progressistas” reunidos em seu
instituto para, nas palavras do assessor Luiz Dulci, “definir um plano de
trabalho para o desenvolvimento e integração” da América Latina.”
Ou seja, o que ele relata, coincide com o que falei sobre a intuição do
Lula no início do governo, em 2003, mas uma década depois, a intelectualidade
brasileira do PT no governo, esta aparentemente, na espera do milagre, do mito.
Isso mostra, na verdade, a falta de capacidade e de preparo da intelectual
brasileira e do PT, mais uma sinalização do nível de nossa maturidade, elite e
intelectuais de adolescentes, da “a elite marginal” estamental, da qual
falou Raymundo Faoro, a elite do pensamente do PT, absolutamente lamentável.
O segundo ponto mais importante do Governo Lula, de dimensão tanto
quanto ou até mesmo maior inclusive, foi a implantação das políticas culturais,
os pontos de cultura e as culturas digitais do Ministro da Cultura, Gilberto
Gil, que é reconhecido mundialmente pelo fato, inclusive até pelos intelectuais
dos EUA. Novamente a intelectualidade do PT e da academia não tem contribuição
nesse segundo ponto mais importante, na minha modesta opinião.
Primeiro temos a intuição do operário nortestino, em segundo, a
instuição musical da brasilidade-africana-nordestina.
O discurso do Lula deixa claro também que não se tinha um projeto
político:
[...] O Brasil pode e deve ter um projeto de desenvolvimento
que seja ao mesmo tempo nacional e universalista, significa, simplesmente,
adquirir confiança em nós mesmos, na capacidade de fixar objetivos de curto,
médio e longo prazos e de buscar realizá-los.
Assim como as palavras finais do discurso:
[...] O que nós estamos vivendo hoje neste momento, meus companheiros e
minhas companheiras, meus irmãos e minhas irmãs de todo o Brasil, pode ser
resumido em poucas palavras: hoje é o dia do reencontro do Brasil consigo
mesmo.
Essa encontro marcado, é uma realidade que ainda não aconteceu em nossa
sociedade, que é um sonho antigo, o nó górdio secular de nossa sociedade, os
privilégios e status quo do andar de cima com os sem privilégios, sem status
quo, e sem direitos de cidadania do andar de baixo, que está em toda nossa
história da literatura regional, desde Euclydes da Cunha, “Os Sertões”,
Lima Barreto, Jorge Amado, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Raquel de
Queiroz, Mário de Andrade, ..., ao livro de Fernando Sabino, que
sintetiza no título essa busca, esse desejo dos personagens das história
anteriores de mais de meio século: “O Encontro Marcado” (1956), que
é bom repetir, ainda não aconteceu em nossa sociedade. O enigma da charada, de
forma macunaímica, é como se a foto do Brasil estivesse amarrada na boca do
sapo, enterrada e cristalizada como um fóssil, desde a colônia.
Na entrevista com André Singer, o Luis Nassif, pergunto-lhe sobre o
projeto político, dizendo, “A impressão que se tinha, era um governo sem
projeto”, a resposta do André, de forma cautelosa, foi que se tinha um
projeto político sim, assim também afirmou o Prefeito Haddad, inclusive sem ser
questionado diretamente. Mas fico aqui perguntando, com meus botões, mas qual
projeto petista será essa?
O projeto que o lulismo cantado em verso e prosa desde 2012, em
uníssono, na verdade é o projeto derivado da Tese defendida em 1999, por Darc
Antonio da Luz Costa, Professor da Escola Superior de Guerra (ESG), “UM
DISCURSO DE ESTRATÉGIA NACIONAL” (anexo), e livro de 2009, “FUNDAMENTOS PARA O
ESTUDO DA ESTRATÉGIA NACIONAL”, Ed. Paz e Terra, 568 páginas. Um projeto de
essência conservador. Mas é notável perceber que temos um projeto, mas não é
fruto do lulismo ou da esquerda cartesiana e medíocre, mas da direita conservadora.
Conheci o professor Darc Costa em 2010, no debate sobre o pré-sal,
IEA-USP, na qual foi onde ouvi pela primeira vez, ele afirmou categoricamente
sem entrar em detalhes, mesmo sendo questionado: “nós temos um projeto
político”.
No vídeo de 2011, Blog do Milênio, Globo News, Darc Costa, detalha
alguns pontos na entrevista, a certa altura, ele diz:
(...) “depois de 500 anos, nós somos o ocidente profundo das conquistas
ibéricas desde os anos 1500, e legítimos descendentes dos Romanos”.
Interessante observar que, ele não considera a nossa cultura da
descendência africana e nem a nossa cultura da descendência dos povos
indígenas, de sabedoria milenares, que apesar dos pesares, ainda estão de algum
modo por aqui, bem diferente dos povos antigos da Europa, que foram dizimados
por eles, assim como dizimaram também as florestas. Pergunte a tantos
brasileiros e latinos que moraram na Europa, para saber se eles, os europeus
nos consideram como ocidentais, “no way body”.
E o que pensa o índio brasileiro sobre a cultura ocidental?
(...) “Ailton Krenak me contou uma história fantástica do dia em que ele e
Davi Kopenawa Yanomami foram até Atenas receber um prêmio da Fundação Onassis
pela preservação do meio ambiente. Recepcionados com limusine na porta do
avião, banquetes, aquela loucura toda, eles receberam o prêmio e, enfim, foram
levados para uma visita à Acrópole junto com o embaixador brasileiro. Quando a
visita acabou, o embaixador perguntou para Davi: "Então Davi, o que você
acha?" E ele respondeu: "Ah! Agora eu entendi, a casa do avô do
garimpeiro é aqui". "Onde estão as florestas de vocês?", ele
perguntou. "Aqui nunca teve floresta?" E responderam: "sim, há
muito tempo, mas depois...". Eu achei fantástico, porque ele trazia,
agora, o antes! É o pré-socrático chegando! Ele diz: "Entendi, vocês são
construtores de ruínas!" Numa outra chave, pode-se dizer: "que
cretino, não soube ver a beleza da Acrópole". Mas a relação que ele fazia
era entre a ruína da Acrópole e a floresta. Num tipo de pensamento destes, o
que interessa é a origem, é o "antes", então ele vai pra trás. Acho
isso muito interessante como situação.”DEMASIADAMENTE PÓS-HUMANO -
Entrevista com Laymert Garcia dos Santos- 2005
Os dois primeiros anos do Governo Dilma, foram muito mais importantes
com a quebra de braço dos juros, e a luta para reverter a desindustrilização do
país desde os anos 90, na qual nem FHC e nem Lula mexeram uma palha, pois assim
como FHC sentou em cima do “Plano Real” e a reeleiçãocomprada, Lula sentou em
cima do “Bolsa Família” e da crise do mensalão, no segundo mandato, o início do
PAC, mas novamente, também não mexeu uma virgula nos juros do sistema
financeiro. É o governo Dilma que está procurando "O grande salto"
(Economist, Reportagem Especial sobre emergentes - Carta Capital outubro de
2011).
Como diz reportagem especial de Carta Capital de 25 Jan. de 2013, “
Os novos
caminhos do Brasil”, O presidente do Conselho da Infraestrutura
da CNI, José de Freitas Mascarenhas, alerta sobre os nossos graves problemas,
não só de falta de investimentos, mas de queda no investimento percentualmente
este ano.
Portanto, fica demonstrado, que o propalado “ad eternum” do
lulismo do ano de 2012, “Temos um projeto político”, é na verdade
uma projeto não do lulismo, mas das forças conservadoras que o lulismo, na
‘bravata’, quer nos fazer crer, que são deles, querem ser autores e atores ao
mesmo tempo. A inteligentsia do lulismo é zero à esquerda. Essa foi a
pergunta-provocação, que fiz a Paulo Arantes, em 2011: Somos esquerda ou zero à
esquerda? Ele virou um dragão chinês. Na verdade a esquerda e o lulismo do PT,
caminhando do centro esquerda para o centro, não tem inteligentsia alguma, além
do aparatique partidário, as palavras do assessor Luiz Dulce são muito
reveladoras.
Nós temos ilhas de excelência nas unversidades, mas no geral, é uma ilha
da fantasia, a distância entre a realidade da sociedade adolescente que somos e
a realidade das universidades, é cavalar.
Eu também sonhei além da realidade desde 2009, ao
dizer, "Brasil, dobrar a aposta de JK: Desenvolver um século numa
geração", ou "Brasil, a sociedade afluente dos trópicos?"
É claro que a perpectiva da econmia nos próximas décadas é vento em popa
com o pré-sal, mas mundaças na sociedade patrimonialista e estamental, de
privilégios e status quo, só vejo possibilidades com as novas gerações, em
minhas análises e raio de visão, será algo para o meio do século e segunda
metade do século XXI, fato que certamente não verei.
Como bem definiu Wanderley Guilherme dos Santos, em março de 2011, o que
temos é "Outra Era Vargas"
Globo News-Darc
Costa: http://www.youtube.com/watch?v=gd93p4NwxQo
Marcelo Escobar-CPFLCultura: http://www.youtube.com/watch?v=9ues04qcyE8