sábado, 23 de fevereiro de 2013

A inteligentsia do lulismo-PT: zero à esquerda

(...) "Não evito a seguinte consideração. Uma peculiar discrepância instala-se, na minha visão, entre partido e governo." (Mino Carta)

Caros geonautas,

Comentários ao Editorial de Mino Carta: Partido e governo (22-02-13)

Breve comentário sobre o artigo do baluarte do velho jornalismo (abaixo), o amigo de Raymundo Faoro e Claudio Abramo, Mino Carta começa a demonstrar que está vendo algo a mais, ou esta dizendo isso somente agora, ele se alinha com a visões de quem esta na fronteira do pensamento político. Nesse ponto Raymundo Faoro está para nossa história política assim como Celso Furtado esta para a história da economia política.
Como as colunas econômicas do Luis Nassif das últimas semanas, que também vem sinalizando que há algo de estranho, existe algo no ar além dos aviões de carreira, o céu pode não ser um céu de brigdeiro amanhã. Nosso regime não é parlamentarismo (ainda bem), e portanto, não temos eleições hoje, Isso não quer dizer que o fim do lulismo será em 2014, mas que o jogo está ficando diferente, isso está, me vem a mente "As armadilhas do PT", da qual alertou Faoro, desde 1988.

A inteligentsia do lulismo é zero à esquerda. Essa foi a pergunta-provocação, que fiz a Paulo Arantes, em 2011: Somos esquerda ou zero à esquerda? Ele virou um dragão chinês. Na verdade a esquerda e o lulismo do PT, caminhando do centro esquerda para o centro, não tem inteligentsia alguma, além do aparatique partidário, as palavras do assessor Luiz Dulce são muito reveladoras. 

Como bem definiu Wanderley Guilherme dos Santos, em março de 2011, o que temos é "Outra Era Vargas" (Temos um projeto político”: Será 'bravata' do lulismo?).
Eu jogo nesse time, procuro jogar meu jogo solitário, sentando a mesa com os "Intérpretes do Brasil", inclusive tirei uma casquinha no Ricardo Kotscho dias atrás, e como sinalizei desde 15-01-2013. A cruz começa a ficar pesada para carregar, até onde isso vai?
Quem viver verá!

Carta Capital, editorial
Mino Carta: Partido e o governo (22-02-13)
A ideia do PT já se fixava na cabeça de Lula quando o entrevistei pela primeira vez no começo de 1978. Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, representava a vanguarda de um movimento operário em plena mudança. A reforma partidária engendrada pelo Merlin do Planalto, Golbery do Couto e Silva, na segunda metade de 1979, facilitou-lhe a tarefa.
Discrepância. Os governantes foram fiéis aos planos iniciais. O partido nem tanto
Discrepância. Os governantes foram fiéis aos planos iniciais. O partido nem tanto. Foto: B. Salgado/ Estadão Conteúdo
Singular personagem, Golbery. Única, a seu modo. Fiel do maniqueísmo da Guerra Fria, inventou a ideologia destinada a sustentar o golpe de 1964, estranhamente impregnada por um pretenso, e de fato impossível, propósito democrático. Foi retirado da cena com o fim do curto mandato bienal de Castelo Branco, e só voltou ao governo no período de Ernesto Geisel. Partiu para a demolição do regime que contribuíra a criar, “lenta, gradual, porém segura”, sem que o próprio Geisel tivesse clara noção a respeito.
Enredo singular como a personagem. Mantido na chefia da Casa Civil por Figueiredo, Golbery deu prosseguimento ao seu plano, primeiro com uma anistia ardilosa que não foi “ampla, geral e irrestrita”, depois com a reforma partidária, cujo objetivo era estilhaçar a oposição reunida no MDB do doutor Ulysses, subitamente capacitado a se aproveitar daquelas pretensões democráticas e, a despeito de pressões, ameaças e riscos, a desempenhar um digno e importante papel.
De todo modo, a entrevista de Lula publicada na edição da primeira semana de fevereiro de 1978, deixou Golbery impressionado e muito interessado nos movimentos do astro nascente. Quando Lula ficou preso durante a greve do ABC de 1980, nas dependências do Dops, o mago planaltino enviou a São Paulo dois cavalheiros engravatados com a incumbência de entrevistar o preso no tom de uma conversa de amigos, peripatética, mas sutilmente inquisitiva. Apresentavam-se como subordinados do “cacique”, não melhor especificado, e queriam saber das ideias e tendências políticas do líder metalúrgico.
Golbery sairia do governo em agosto de 1981, em consequência das bombas do Riocentro e da tentativa de Figueiredo e de Octavio Medeiros de emperrar, se possível de vez, o processo de abertura. Da reforma eleitoral resultaram o PMDB de Ulysses, o PP de Tancredo Neves, o PDT de Brizola, a quem a legenda tradicional, PTB, fora sumariamente furtada para ser entregue a Ivete Vargas. E o PT de Lula, que dia 20 deste fevereiro celebrou dez anos de governo.
Longa caminhada, de êxito total. A busca do poder é o alvo de qualquer partido e se eleições fossem convocadas hoje, é mais do que certo que o PT continuaria folgadamente onde se encontra. Como dizia Raymundo Faoro, “eles querem um país de 20 milhões de habitantes e uma democracia sem povo”. Referia-se aos senhores da casa-grande. O governo Lula e agora o de Dilma Rousseff empenharam-se e se empenham para que os milhões se multipliquem às dezenas. E, quanto ao eleitorado, colhem os frutos de sua ação.
É do conhecimento até do mundo mineral que o Brasil progrediu nos últimos dez anos como jamais se dera na sua história, e fique claro que na sua desfaçatez, na sua parvoíce, na sua hipocrisia, a mídia nativa situa-se, queira ou não, em estágio anterior ao mundo mineral. Quem sabe, o magma primevo.
Não evito a seguinte consideração. Uma peculiar discrepância instala-se, na minha visão, entre partido e governo. O PT nasceu à sombra de um ideário político de franco esquerdismo, afinado com os tempos, no Brasil e no mundo. Sobretudo no Brasil, entregue à ditadura. Ao amadurecer, o partido soube adaptar-se às mudanças globais. Hoje pergunto aos meus meditativos botões se os avanços dos últimos dez anos se devem ao PT ou aos governos Lula e Dilma.
Governos do PT? Meus botões não são de cautelas, afirmam: mérito dos governantes, além do mais forçados a alianças nem sempre aprazíveis, a bem da governabilidade. Lula, divisor de águas. Dilma, firme continuadora. À época do surgimento do PT, imaginei um grande, versátil, inteligente partido de esquerda, capaz de produzir mudanças profundas sem maiores conflitos, como se deu em outros cantos do mundo, onde anéis saem dos dedos graúdos somente sob pressão.
O PT não foi essa agremiação ideal, e muitas vezes portou-se como as demais. E muitas vezes ofereceu munição de graça à feroz obsessão da casa-grande. E muitas vezes exibiu inúteis divergências intestinas, a lhe exibirem a fragilidade, quando não a má-fé. E muitas vezes levou a cargos de governos quem não merecia. É a voz dos meus botões.

Nenhum comentário:

Postar um comentário