Blog do Cláudio Lembo, 18/03/2013 - TERRA MAGAZINE
Uma retrospectiva histórica conduz a perplexidade. A escolha do Papa Francisco não é produto de um caminho linear. Ao contrário, o passado de sua ordem de origem, a Companhia de Jesus, sempre sofreu sobressaltos de percurso.
 
Fundada em 1534, na cidade de Paris, mereceu aprovação pelo Papa Paulo III. Este que solicitou a transferência da sede da Companhia para Roma.
 
São usuais, nas ordens religiosas católicas, que seus integrantes professem três votos perpétuos: pobreza, castidade e obediência. A estes três votos, após longos estudos, acrescenta-se o de total fidelidade ao Papado.
 
Tem-se ai um jesuíta. A estes a literatura religiosa costuma chamar de soldados de Deus, exército do Papa ou a cavalaria ligeira da Igreja.
 
Estas denominações apontam a efetiva maneira de atuar dos jesuítas. Agem com denodo. Não se abatem perante as adversidades, as quais foram muitas desde a instituição da ordem Montmartre, no longínquo 15 de agosto de 1534.
 
Ignácio de Loyola, e seus seis primeiros companheiros, desejavam libertar a Jerusalém, à época sob o domínio muçulmano. Esta aspiração, no entanto, não se concretizou.
 
 Os jesuítas foram, ao invés, enviados às terras recém descobertas da América, a China e ao Japão, em missões extremamente arrojadas e repletas de lances de coragem.
 
Em todos os tempos, invejados e combatidos por governantes e por outras ordens religiosas. Cultos, dominaram, intelectualmente, monarcas. Foram apontados como desejosos de governar o mundo.
 
A Companhia de Jesus foi extinta em 1773.  O autor deste ato foi o Papa Clemente XIV. A reabilitação aconteceu somente em 1814. Corria o pontificado de Pio VII.
Combativa e, por vezes, perseguida, a Companhia de Jesus nunca deixou de se lançar com ênfase no cenário da educação. Fundou universidades por toda a parte. Aqui no Brasil, nos Estados Unidos e no Japão.
 
Por toda a Europa sua presença é constante e seus estabelecimentos de ensino respeitados.
 
Durante séculos, seus membros se encontraram impedidos de aceitar honrarias e funções da hierarquia eclesiástica. Entre estas, como é óbvio, o cargo de Papa.
Os tempos passaram. A Companhia de Jesus entrou em forte crise no decorrer do mandato do seu Superior Geral Pedro Arrupe. Era época do Concílio Vaticano II. 
 
Muitos jesuítas se lançaram em lutas político-partidárias em defesa dos pobres.
Foram admoestados pelo Vaticano. Uma forte depressão recaiu sobre o desenvolvimento dos objetivos da Companhia de Jesus. Ficaram, contudo, as sementes do novo carisma: o combate a miséria endêmica em muitas regiões do mundo.
 
Hoje, os jesuítas, sem abandonar suas preocupações com os problemas sociais, retornaram ao curso normal de suas atividades históricas. É neste quadro que, de surpresa, um membro da Sociedade de Jesus passa ao vértice da Igreja Católica.
A partir de uma visão retrospectiva, pois, deve-se aguardar anos de embates entre as inúmeras ordens religiosas católicas. Ainda uma mudança profunda de comportamento da Cúria Romana.