sábado, 23 de fevereiro de 2013

A 'bravata' do lulismo: "Temos um projeto poítico"
Autor: Oswaldo Conti-Bosso

Caros geonautas,
Do governo Lula ao Governo Dilma, dez anos se passaram, o projeto do lulismo e o termo incorporado no discurso recente,: “Temos um projeto político”.
Principalmente no ano de 2012, ouviu-se, nos debates e apresentações, uma frase quase em forma de coro, de forma uníssono,  entre os membros do governo e na academia, “Temos um projeto político”, Mesmo para meus parcos conhecimentos, ficou evidente que, era uma forma ensaiada, uma nova forma de se comunicar, uma espécie de nova linguagem e estratégia do QG do lulismo, nas palavras, repetidas ad eternum,  “Temos um projeto político”, foram palavras, por exemplo, de Andre Singer e Fernando Haddad nas respectivas entrevistas para o jornalista Luis Nassif, vamos tentar entender e desvendar essa caixa preta.
É preciso deixar claro que, a eleição do operário e metalúrgico Lula foi uma mudança de paradigma histórica no Brasil e quiçá na história da democracia do mundo, e também a eleição da Dilma Rousseff, mas até onde o lulismo irá só o tempo dirá. Mas qual é a inteligentsia do lulismo, além da sabiência do Lula?
Do discurso de Lula no Congresso Nacional (integra aqui), destaco algumas falas, mas convido a todos a ler a integra do discurso. O carro chefe do discurso foi o lançamento do programa “Fome Zero” e a esperança de forjar um pacto social:
"Mudança"; esta é a palavra chave, esta foi a grande mensagem da sociedade brasileira nas eleições de outubro. [...] antes de qualquer outra coisa, convocar o meu povo, justamente para um grande mutirão cívico, para um mutirão nacional contra a fome. [...] Por isso, defini entre as prioridade de meu governo um programa de segurança alimentar que leva o nome de "Fome Zero". Como disse em meu primeiro pronunciamento após a eleição, se, ao final do meu mandato, todos os brasileiros tiverem a possibilidade de tomar café da manhã, almoçar e jantar, terei cumprido a missão da minha vida. [...] Por tudo isso, acredito no pacto social. 
É sabido que o programa “Fome zero” não vingou, foi substituído pelo “Bolsa Família”, que não era na origem, um programa base do PT, mas aqui entra a grande sacada, a sensibilidade e a visão política do Lula, que soube ouvir e teve coragem de bancar o programa.
Esse é na minha modesta opinião o ponto mais importante do governo Lula, disse em 2011 que, se o Lula, ao ser eleito presidente, ao invés de usar sua intuição, passasse a responsabilidade para os intelectuais do PT, para os intelectuais das universidades, ele muito provavelmente, politicamente falando, seria hoje mais um “morto-vivo”, como FHC.
Pegando carona no artigo, “Lula e a falência da ‘Doutrina Garcia”, O Globo, 31 de Jan. de 2013, embora seja favorável a integração da América do Sul, ao contrário de Demétrio Magnoli, mas ele relata as bravatas do assessor Luiz Dulce:
Lula sabe mais que os “intelectuais progressistas” reunidos em seu instituto para, nas palavras do assessor Luiz Dulci, “definir um plano de trabalho para o desenvolvimento e integração” da América Latina.”
Ou seja, o que ele relata, coincide com o que falei sobre a intuição do Lula no início do governo, em 2003, mas uma década depois, a intelectualidade brasileira do PT no governo, esta aparentemente, na espera do milagre, do mito. Isso mostra, na verdade, a falta de capacidade e de preparo da intelectual brasileira e do PT, mais uma sinalização do nível de nossa maturidade, elite e intelectuais de adolescentes, da “a elite marginal” estamental, da qual falou Raymundo Faoro, a elite do  pensamente do PT, absolutamente lamentável.
O segundo ponto mais importante do Governo Lula, de dimensão tanto quanto ou até mesmo maior inclusive, foi a implantação das políticas culturais, os pontos de cultura e as culturas digitais do Ministro da Cultura, Gilberto Gil, que é reconhecido mundialmente pelo fato, inclusive até pelos intelectuais dos EUA. Novamente a intelectualidade do PT e da academia não tem contribuição nesse segundo ponto mais importante, na minha modesta opinião.
Primeiro temos a intuição do operário nortestino, em segundo, a instuição musical da brasilidade-africana-nordestina.
O discurso do Lula deixa claro também que não se tinha um projeto político:
 [...] O Brasil pode e deve ter um projeto de desenvolvimento que seja ao mesmo tempo nacional e universalista, significa, simplesmente, adquirir confiança em nós mesmos, na capacidade de fixar objetivos de curto, médio e longo prazos e de buscar realizá-los.
Assim como as palavras finais do discurso:
[...] O que nós estamos vivendo hoje neste momento, meus companheiros e minhas companheiras, meus irmãos e minhas irmãs de todo o Brasil, pode ser resumido em poucas palavras: hoje é o dia do reencontro do Brasil consigo mesmo.
Essa encontro marcado, é uma realidade que ainda não aconteceu em nossa sociedade, que é um sonho antigo, o nó górdio secular de nossa sociedade, os privilégios e status quo do andar de cima com os sem privilégios, sem status quo, e sem direitos de cidadania do andar de baixo, que está em toda nossa história da literatura regional, desde Euclydes da Cunha, “Os Sertões”, Lima Barreto, Jorge Amado, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Raquel de Queiroz, Mário de Andrade,  ..., ao livro de Fernando Sabino, que sintetiza no título essa busca, esse desejo dos personagens das história anteriores de mais de meio século: “O Encontro Marcado” (1956), que é bom repetir, ainda não aconteceu em nossa sociedade. O enigma da charada, de forma macunaímica, é como se a foto do Brasil estivesse amarrada na boca do sapo, enterrada e cristalizada como um fóssil, desde a colônia.
Na entrevista com André Singer, o Luis Nassif, pergunto-lhe sobre o projeto político, dizendo, “A impressão que se tinha, era um governo sem projeto”, a resposta do André, de forma cautelosa, foi que se tinha um projeto político sim, assim também afirmou o Prefeito Haddad, inclusive sem ser questionado diretamente. Mas fico aqui perguntando, com meus botões, mas qual projeto petista será essa?
O projeto que o lulismo cantado em verso e prosa desde 2012, em uníssono, na verdade é o projeto derivado da Tese defendida em 1999, por Darc Antonio da Luz Costa, Professor da Escola Superior de Guerra (ESG), “UM DISCURSO DE ESTRATÉGIA NACIONAL” (anexo), e livro de 2009, “FUNDAMENTOS PARA O ESTUDO DA ESTRATÉGIA NACIONAL”, Ed. Paz e Terra, 568 páginas. Um projeto de essência conservador. Mas é notável perceber que temos um projeto, mas não é fruto do lulismo ou da esquerda cartesiana e medíocre, mas da direita conservadora.
Conheci o professor Darc Costa em 2010, no debate sobre o pré-sal, IEA-USP, na qual foi onde ouvi pela primeira vez, ele afirmou categoricamente sem entrar em detalhes, mesmo sendo questionado: “nós temos um projeto político”.
No vídeo de 2011, Blog do Milênio, Globo News, Darc Costa, detalha alguns pontos na entrevista, a certa altura, ele diz:
(...) “depois de 500 anos, nós somos o ocidente profundo das conquistas ibéricas desde os anos 1500, e legítimos descendentes dos Romanos”.
Interessante observar que, ele não considera a nossa cultura da descendência africana e nem a nossa cultura da descendência dos povos indígenas, de sabedoria milenares, que apesar dos pesares, ainda estão de algum modo por aqui, bem diferente dos povos antigos da Europa, que foram dizimados por eles, assim como dizimaram também as florestas. Pergunte a tantos brasileiros e latinos que moraram na Europa, para saber se eles, os europeus nos consideram como ocidentais, “no way body”.
 E o que pensa o índio brasileiro sobre a cultura ocidental?
(...) “Ailton Krenak me contou uma história fantástica do dia em que ele e Davi Kopenawa Yanomami foram até Atenas receber um prêmio da Fundação Onassis pela preservação do meio ambiente. Recepcionados com limusine na porta do avião, banquetes, aquela loucura toda, eles receberam o prêmio e, enfim, foram levados para uma visita à Acrópole junto com o embaixador brasileiro. Quando a visita acabou, o embaixador perguntou para Davi: "Então Davi, o que você acha?" E ele respondeu: "Ah! Agora eu entendi, a casa do avô do garimpeiro é aqui". "Onde estão as florestas de vocês?", ele perguntou. "Aqui nunca teve floresta?" E responderam: "sim, há muito tempo, mas depois...". Eu achei fantástico, porque ele trazia, agora, o antes! É o pré-socrático chegando! Ele diz: "Entendi, vocês são construtores de ruínas!" Numa outra chave, pode-se dizer: "que cretino, não soube ver a beleza da Acrópole". Mas a relação que ele fazia era entre a ruína da Acrópole e a floresta. Num tipo de pensamento destes, o que interessa é a origem, é o "antes", então ele vai pra trás. Acho isso muito interessante como situação.”DEMASIADAMENTE PÓS-HUMANO - Entrevista com Laymert Garcia dos Santos- 2005 
Os dois primeiros anos do Governo Dilma, foram muito mais importantes com a quebra de braço dos juros, e a luta para reverter a desindustrilização do país desde os anos 90, na qual nem FHC e nem Lula mexeram uma palha, pois assim como FHC sentou em cima do “Plano Real” e a reeleiçãocomprada, Lula sentou em cima do “Bolsa Família” e da crise do mensalão, no segundo mandato, o início do PAC, mas novamente, também não mexeu uma virgula nos juros do sistema financeiro. É o governo Dilma que está procurando "O grande salto" (Economist, Reportagem Especial sobre emergentes - Carta Capital outubro de 2011).
Como diz reportagem especial de Carta Capital de 25 Jan. de 2013, “Os novos caminhos do Brasil”, O presidente do Conselho da Infraestrutura da CNI, José de Freitas Mascarenhas, alerta sobre os nossos graves problemas, não só de falta de investimentos, mas de queda no investimento percentualmente este ano. 
Portanto, fica demonstrado, que o propalado “ad eternum” do lulismo do ano de 2012, “Temos um projeto político”,  é na verdade uma projeto não do lulismo, mas das forças conservadoras que o lulismo, na ‘bravata’, quer nos fazer crer, que são deles, querem ser autores e atores ao mesmo tempo. A inteligentsia do lulismo é zero à esquerda. Essa foi a pergunta-provocação, que fiz a Paulo Arantes, em 2011: Somos esquerda ou zero à esquerda? Ele virou um dragão chinês. Na verdade a esquerda e o lulismo do PT, caminhando do centro esquerda para o centro, não tem inteligentsia alguma, além do aparatique partidário, as palavras do assessor Luiz Dulce são muito reveladoras.
Nós temos ilhas de excelência nas unversidades, mas no geral, é uma ilha da fantasia, a distância entre a realidade da sociedade adolescente que somos e a realidade das universidades, é cavalar.
Eu também sonhei além da realidade desde 2009, ao dizer, "Brasil, dobrar a aposta de JK: Desenvolver um século numa geração", ou "Brasil, a sociedade afluente dos trópicos?"
É claro que a perpectiva da econmia nos próximas décadas é vento em popa com o pré-sal, mas mundaças na sociedade patrimonialista e estamental, de privilégios e status quo, só vejo possibilidades com as novas gerações, em minhas análises e raio de visão, será algo para o meio do século e segunda metade do século XXI, fato que certamente não verei.
Como bem definiu Wanderley Guilherme dos Santos, em março de 2011, o que temos é "Outra Era Vargas"  
Globo News-Darc Costa: http://www.youtube.com/watch?v=gd93p4NwxQo
Marcelo Escobar-CPFLCultura: http://www.youtube.com/watch?v=9ues04qcyE8
Vídeos: 
Veja o vídeo
Veja o vídeo
Globo News-Darc Costa- e Marcelo Escobar-CPFLCultura

Um comentário:

  1. Em falando no morto-vivo FHC, ele acusa o petismo de iniciar prematuramente o debate da sucessão, quando foi o contrário, se mal me engano. Haja cara-de-pau do morto-vivo.

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